Em São Paulo, boom de apartamentos do tamanho de quartos de hotel

Luján Scarpinelli

Sexta, 14 de julho de 2023 às 4h06 CEST· 4 minutos de leitura

Lara Maia digita em seu laptop empoleirado em uma pequena escrivaninha que ocupa um espaço entre a geladeira e o guarda-roupa em seu microapartamento em São Paulo, a cidade mais populosa da América Latina.

Atrás dela, a cama também serve de sofá.

“Não preciso de mais: estou perto de tudo e me sinto à vontade para sair quando quiser com algumas malas”, disse à AFP o cientista da computação de 34 anos sobre o prédio de 16 metros quadrados. m²) apartamento próximo ao centro de São Paulo.

O espaço de Maia no 16º andar, que serve como sua casa e escritório ocasional, é um exemplo de uma tendência crescente de apartamentos do tamanho de quartos de hotel.

Longo estilo de vida em outras grandes cidades do mundo, em São Paulo, capital econômica do Brasil, o boom foi recente.

De 2016 a 2022, as unidades disponíveis de até 30 m2 subiram de 461 unidades para 16.261, segundo o Secovi-SP.

O número representa um quinto de todos os apartamentos da cidade de 11,5 milhões de habitantes.

Alguns, com móveis espremidos como em um jogo de Tetris, ou com a cozinha a poucos centímetros do banheiro, viraram motivo de piada nas redes sociais.

Mas isso não diminuiu a demanda, principalmente entre adultos de 20 a 39 anos, segundo pesquisa da imobiliária Quinto Andar.

“São profissionais jovens, de classe média e média alta, em início de carreira, em sua maioria solteiros, atraídos por imóveis modernos e bem localizados próximos a empregos ou transporte público”, disse o presidente do Secovi-SP, Ely Wertheim.

– Redução da escala –

Criada em uma casa grande nos arredores de São Paulo, Maia disse à AFP que poderia conseguir um apartamento maior em outro bairro pelos mesmos R$ 2.300 (cerca de US$ 475) que paga de aluguel mensalmente.

Mas ela está cedendo espaço com alegria para estar mais perto da família e do trabalho, presencialmente parte do tempo.

Ao final de um dia de trabalho em casa, Maia fecha o laptop e prepara o chá com torradas em sua única panela em um fogão elétrico.

Então ela tira uma mesinha de debaixo da mesa de trabalho e se senta para comer.

“Em um espaço tão pequeno você aprende a se livrar de muitas coisas e a mudar sua percepção sobre o que precisa”, disse ela.

As reuniões com os amigos acontecem no terraço – uma área compartilhada que se tornou comum em novos prédios de apartamentos e oferece lavanderia e salas de jogos, espaços de coworking e até áreas para banho de animais de estimação.

Oscar Borghi, engenheiro de 39 anos, mora com a namorada desde o ano passado em um apartamento de 28 m2 com dois cômodos na Zona Sul de São Paulo, também perto de seu trabalho e de uma estação de trem.

“Pensamos que seria pequeno, mas estamos confortáveis ​​com o layout e os espaços do edifício”, disse à AFP.

“Quando estamos os dois trabalhando em casa ao mesmo tempo, um de nós vai para o espaço de coworking” do prédio.

– Não é barato –

Rodger Campos, economista da imobiliária Loft, disse que São Paulo, a quinta maior cidade do mundo, é semelhante a outras metrópoles gigantes como Nova York ou Tóquio, onde abundam os microapartamentos: “Tem alta densidade populacional, conexão global , e é um centro de trabalho, saúde e educação.”

A tendência foi ainda ajudada por uma queda acentuada das taxas de juros de 6,75% em 2018 para cerca de 2,0% em 2021 devido à pandemia de Covid-19, disse José Armenio, que trabalha na secretaria de urbanismo da cidade.

Isso significava que era mais fácil comprar apartamentos pequenos para fins de locação.

Outro impulso veio da redução das tarifas da cidade em 2014 para a construção de pequenos apartamentos.

O objetivo era habitação acessível para pessoas menos abastadas, em áreas servidas por transportes públicos. Mas o resultado foi o oposto.

“Apartamentos de até 30 m2 têm o metro quadrado mais caro da cidade”, disse Campos.

O conselho municipal recentemente concordou em revisar o planejamento da cidade de São Paulo, encarecendo a construção de microapartamentos em uma tentativa de criar mais habitações sociais familiares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *